O tal vídeo da BrahmaFla, onde um rapaz destila ironias sobre o Sport
com a inventividade de uma máquina calculadora e a sagacidade do Cigano
Igor, não é uma peça de preconceito contra nordestinos. É apenas uma
tentativa tosca e infantil de soar engraçado e motivar a torcida de um
time num jogo contra outro. Parem de procurar cabelo em sapo. E olhem
que eu sou torcedor do Sport (rubro-negro não, pois isso tem até em
times de menor expressão nos cenários nacional e mundial, como Flamengo,
Milan, etc).
Sim, em um determinado momento o jovem manda um
"Issportí" à moda das novelas ambientadas no Nordeste, o que,
levando-se em conta o tipo médio do torcedor-carioca-marrento, é uma
clara tentativa de zombar com o sotaque local. Mas notem bem: uma coisa é
a Mayara Petruso e seu "mate um nordestino afogado". Outra, bem
diferente, é o sujeito fazer troça com um sotaque. Afinal djí côantach,
eu puósso ou não puósso tchirar ôanda com o sutáqui dêlich? Seria isso
preconceito contra cariocas?
No mais, "timinho" não é uma
palavra agressiva. O torcedor do Real Madrid já deve tê-la usado contra o
Barcelona, e até os adeptos do 32 de Abril Esporte Clube a usaram um
dia para se referirem ao rival 30 de Fevereiro Futebol Clube quando este
último começou a fazer cera num clássico entre os dois. À pilhéria
sobre a qual o Sport "só aparece na mídia quando joga com o Miengão" eu
poderia responder que " de fato nas páginas policiais o Flamieango
aparece bem mais que o Sport". Seria preconceito meu, uma descrição
técnica dos fatos usada como tiração de onda?
O que esse caso
escancara é, por um lado, a total falta de critério para uma boa
gozação (sim, não é qualquer asneira que se classifica como "boa
brincadeira") e, do outro, a
hiperssensibilidade à qual se
acostumou boa parte dos nordestinos. Não que não haja motivos históricos
para que nós esbravejemos contra o preconceito – estão aí as Mayaras
para mostrar o contrário – mas o caso do flamieanguista é coisa
infinitamente menor, besta, tabacuda, alesada e, sim, inofensiva.
Quanto à razão primeira desse furdunço todo – nosso título Brasileiro
de 1987, que muitos poderosos tentam tirar mas há 25 anos esbarram no
restinho de Justiça que existe no Brasil – eu poderia até recomendar ao
nobre rapaz um pouco de estudo sobre o assunto mas, a julgar pelo seu
vocabulário no vídeo, creio ser algo que está um tanto acima do seu
horizonte de compreensão. Eu só daria um recado, não só a ele como aos
demais torcedores do Brasil: brincadeiras futebolísticas podem ser
inteligentes e bem sacadas, quer sejam sobre 1987, sobre a convulsão
do Ronaldinho, sobre a fogueteira do Maracanã, e por aí vai.
Inteligência só ofende a quem não a tem.
* Felipe Vieira, 36 anos, é jornalista e torcedor do Sport Club do Recife.
Nota: O texto não reflete, necessariamente, a opinião do Blog
Publicado originalmente no Blog do Torcedor
Nenhum comentário:
Postar um comentário